Leonidas Proaño, pilar da Igreja dos pobres do Equador
Ele nos ensinou a organizar a partilha e a equidade a partir de uma visão política participativa, a não ficar na caridade que paralisa, mas a dar a mão para que os agoniados se levantem e caminhem com suas próprias pernas.
A reportagem é de Soledad Monroy e publicada por Religión Digital, 31-08-2013. A tradução é de André Langer.
“Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5). Hoje, 31 de agosto, aos 25 anos da páscoa de dom Leonidas Proaño, recordamos sua partida e celebramos sua presença. Aqueles que conheceram dom Proaño recordam-no como mestre que sabia ouvir e animar, um pastor próximo que estava convencido de que “são os pobres que nos evangelizam”.
Organizou as comunidades e a Igreja de Riobamba a partir da satisfação das necessidades dos mais pobres. Quem eram estes organizadores? Os próprios pobres. Para atingir este objetivo transformou a casa de Santa Cruz em um centro de formação de alcance internacional e intercontinental, onde se formaram milhares de cristãos simples. Os indígenas do Chimborazo se formavam em seu próprio idioma. Tudo isto se concretizava, para ele, em um plano de pastoral diocesano, cuja meta era o Reino.
Proaño buscava uma Igreja viva e uma nova sociedade. Ao escrever sua autobiografia, esboçou seu projeto de vida e de fé, como bispo: “Creio no homem e na comunidade”. Soube devolver a voz aos silenciados da história durante os 500 anos da conquista. Permitiu que os indígenas retomassem sua voz e começassem a ser uma Igreja indígena. Conseguiu também que se organizassem a partir de sua própria cosmovisão para superar a injustiça e a dominação: ajudou-os a recobrar sua dignidade, com uma consciência nova, com seu projeto ancestral de sociedade. Passava o seu tempo a recebê-los e os acompanhava em suas grandes lutas por todo o país. Dois anos antes da sua morte, depois de ter visto nascer a organização dos indígenas da serra na Ecuarunari, presenciou a união dos indígenas da serra, do oriente e da costa na CONAIE (Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador).
Outra característica de dom Proaño foi sua solidariedade nacional e internacional. Visitava os grupos e as comunidades que o chamavam para conversar com ele, para avaliar o trabalho pastoral, entender a conjuntura nacional e projetar-se como a Igreja dos pobres.
Não apenas recordamos seu testemunho; de modo especial, celebramos sua presença. Proaño nos deixou contagiados para viver o Evangelho à maneira de Jesus, construir a Igreja dos Pobres a partir da realidade latino-americana, dar – como cristãos – a nossa contribuição na sociedade. Seus critérios continuam nos orientando para nos comprometermos a ser a Igreja dos Pobres que ele sonhou, a construir o Equador que ele vislumbrou a partir da sabedoria indígena.
Proaño queria uma Igreja diferente: procuramos tornar este compromisso uma realidade a partir dos necessitados de hoje. Ele mesmo, em sua diocese, construiu uma Igreja renovada. Por ele somos evangelizadores desde a nossa solidariedade com as causas dos pobres: anunciamos uma Igreja mais humana, mais centrada em Jesus e na realidade, com sinais que falam às atuais gerações. Continuamos sendo, assim como ele, testemunhas proféticas do Reino de Deus, denunciando tudo o que nos destrói e anunciando, com palavras e ações, um Reino não apenas espiritual, mas também transformador da Igreja e da sociedade.
Ele nos ensinou a organizar a partilha e a equidade a partir de uma visão política participativa, a não ficar na caridade que paralisa, mas a dar a mão para que os agoniados se levantem e caminhem com suas próprias pernas. Dom Proaño não nos deixa quietos: ele nos anima a sermos uma luz, para que a nossa fé não fique nos altares e nas igrejas, mas que brilhe nas ruas, nos bairros, nas casas, nas fábricas… Ele nos pede para que conservemos a ternura feita de rebeldia e de esperança, à imagem de Maria, a mãe de Jesus, que vemos como nossa companheira de fé, de dor e de luta.
Proaño não é celebrado nas grandes catedrais – é questionador demais das estruturas eclesiais e políticas conservadoras –, mas em milhares de pobres capelas do campo e dos subúrbios, por todos os continentes. Seu poema Solidariedade tornou-se o hino das Comunidades Eclesiais de Base.
“Manter os ouvidos sempre atentos
ao grito de dor dos demais
e escutar seu chamado de socorro,
é solidariedade, solidariedade, solidariedade.
Sentir como algo próprio o sofrimento
do irmão daqui e de lá;
tornar própria a angústia dos pobres,
é solidariedade, solidariedade, solidariedade.
Entregar, por amor, até a vida
é a prova maior da amizade;
é viver e morrer com Jesus Cristo:
a solidariedade, solidariedade, solidariedade.
Chegar a ser a voz dos humildes,
descobrir a injustiça e a maldade;
denunciar o injusto e o malvado,
é solidariedade, solidariedade, solidariedade.
Deixar-se transportar por uma mensagem
carregada de esperança, amor e paz
até apertar a mão do irmão:
é solidariedade, solidariedade, solidariedade.”
https://youtu.be/bI17gKUKXxU
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523255-leonidas-proano-pilar-da-igreja-dos-pobres-do-equador