Vicente Cañas, missionário jesuíta, assassinado pelos que cobiçavam as terras dos índios que ele acompanhava. Mártir em Mato Grosso, Brasil.
Vicente Cañas Costa nasceu em 22 de outubro de 1939, Albacete, Espanha – Era também conhecido como Kiwxi, um missionário jesuíta espanhol naturalizado brasileiro, que, em 1974, estabeleceu os primeiros contatos com os indígenas Enawenê-nawê, no estado de Mato Grosso, e passou a residir entre eles em 1977, trabalhando pela preservação de seu território, com demarcação da Terra Indígena Enawenê-Nawê e por ações de saúde. Foi assassinado dez anos depois no dia 08 de maio de 1987, a mando de fazendeiros da região.
O corpo do Irmão Vicente Cañas foi encontrado cerca de quarenta dias depois da morte, por dois missionários do Cimi, com o abdômen perfurado. Seu barraco, em desordem, apresentava sinais de luta; seus óculos foram quebrados por uma porretada em seu rosto. Seus instrumentos de trabalho, como o cesto onde levava medicamentos, além da lanterna, espingarda e facão, já estavam na voadeira (barco) com a qual iria até as aldeias, como havia avisado por rádio dias antes do assassinato.
O inquérito policial tramitou durante seis anos. Apesar de ser voz corrente na região sobre o envolvimento dos acusados no crime, a população de Juína e das aldeias indígenas conviveram e ainda convivem com medo de represálias e se calam em relação aos mandantes e executores deste crime. A revelação do envolvimento dos acusados só se deu por testemunhos de indígenas da etnia Rikbaktsa (canoeiros), habitantes das terras vizinhas à dos Enawenê-Nawê. 19 anos depois do crime foram julgados pelo Tribunal do Júri, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, município onde se deu o assassinato, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, um conhecido pistoleiro da região. Ninguém foi condenado.
O advogado do Cimi, Paulo Machado Guimarães, admitiu que faltaram provas. Ele acusou o ex-delegado Osmar de intermediar a negociação entre José Vicente e os supostos mandantes do crime, Pedro Chiquetti e Camilo Óbice, que eram fazendeiros na área. Chiquetti possuía terras no limite norte da comunidade indígena e tinha interesse em expandi-las. Já Óbice era um grileiro na região, também interessado nas terras dos Enawene-Nawê. Os dois faleceram durante o longo processo judicial. O outro suposto mandante, o latifundiário Antonio Mascarenhas Junqueira, não pôde ser julgado em razão da idade avançada. Segundo Guimarães “a Funai tem o registro das disputas entre fazendeiros e os indígenas desde antes de 1988” e, aparentemente, a morte do Irmão Vicente deveria facilitar a tomada das terras indígenas.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.