Pedro Casaldáliga
Neste memorial de encanto e poesia, lembraremos em especial de duas pessoas que deram suas vidas pelas causas da Vida, por causa da fé que professaram e pelo testemunho que deram da Palavra. Por isso, os proclamamos: confessor da fé e mártir do Reino. Falamos do bispo Pedro Casaldáliga e do padre João Bosco Penido Burnier, de quem, hoje, celebramos a memória dos 44 anos do martírio.
No dia 11 de outubro de 1976, o bispo Pedro Casaldáliga e o padre João Bosco, jesuíta, coordenador do Conselho Indigenista Missionário – o CIMI – do Estado de Mato Grosso, precisaram ir às pressas até a pequena delegacia da polícia militar, em Ribeirão Bonito, para defender Margarida e Santana da tortura. Depois de um diálogo curto e sem sucesso, o soldado Izi Feitosa Ramalho disparou um tiro contra o padre, que morreu no dia seguinte – festa de Aparecida, oferecendo sua vida pelo povo, pelo CIMI e pelo Brasil.
Dom Pedro Casaldáliga, catalão, missionário claretiano, foi nomeado bispo para a recém-criada Prelazia de São Félix do Araguaia, em 1971. Padre dos pobres, pastor da afro-ameríndia. Pedro foi muitas vezes pedra de tropeço para o latifúndio e o agronegócio que avança sobre os povos originários: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, trabalhadores sem-terra. Mas foi também pedra de edificação da Igreja povo de Deus retomada pelo Concílio Vaticano II, Medellin e Puebla.
A Igreja comprometida com as causas populares da justiça e da libertação sempre paga um preço. Na caminhada da América Latina, milhares foram martirizados pela causa do Reino da Vida. Essa memória de tanto sangue derramado não pode ser esquecida. Por isso, nos organizamos em Irmandade para contar e recontar a história daqueles que, antes de nós e a exemplo de Jesus, foram e continuam sendo fieis até o fim, dando suas vidas na prova do amor maior. São mortes que se traduzem no martírio da terra machucada, devastada, queimada; no martírio dos povos originários, vítimas do latifúndio e do agronegócio; no martírio das mulheres, vítimas do patriarcalismo e do feminicídio; no martírio dos pretos e pretas, vítimas do racismo e da marginalização social; no martírio de migrantes, vítimas da xenofobia; no martírio das juventudes, da população em situação de rua, das vítimas da Covid-19, dos empobrecidos pela exploração do capital e de governos genocidas… todas as vidas importam.
A Irmandade dos Mártires da Caminhada tem a alegria de brindar a todos e todas com este Sarau. “Podem nos tirar tudo, menos a fiel Esperança!”