“Vocês são minhas testemunhas”

Uma reflexão a partir do Evangelho de João, tendo como inspiração o capítulo 15, 27.

por Vanildes Gonçalves dos Santos.

A comunidade do Evangelho de João, também chamada de comunidade do amor, comunidade d@ discípul@ amad@, guarda na memória de suas narrativas o discurso de Jesus,  presente em alguns capítulos desse evangelho, onde o mestre Jesus, na noite em que celebrou a última ceia faz algumas, ou melhor dizendo várias recomendações onde insiste numa conversa de que entre eles não haja patrão e servos,  que permaneçam unidos a Ele, que sejam fiéis, mesmo em tempos difíceis, onde serão odiados e perseguidos e, que cumpram o seu mandamento: se amem. E, depois diz que eles são suas testemunhas.

Podemos pensar, o que é ser testemunha de Jesus?

Convido vocês para irmos atrás dessa resposta, fazendo um olhar sobre o Evangelho de João, ou da memória dessa comunidade, a partir desse legado de que “vocês são minhas testemunhas” (João 15,27). 

Testemunhas de quê?  O evangelho e João têm muitos sinais que apontam para o que é ser testemunha e o que devemos testemunhar. Vejamos alguns:

Ser testemunha de uma comunidade que transforma. Água é transformada em vinho. Que a partir da cozinha, do lugar das mulheres e dos serviçais, sai o alerta de que algo não está bem e pode colocar em risco a continuidade da festa, da alegria, da aliança.  Água em vinho é sinal de caminhos antigos e novos que se misturam e se transformam em festa. O Deus de Jesus é um Deus que gosta de festa, do encontro, da alegria.

Ser testemunha de uma conversa que transforma – o diálogo com a Samaritana, uma mulher, de cultura diferente, de vida diferente, ao se encontrarem à beira do poço, misturam espantos, ideias, esperanças, águas que sacia sedes de gente que está sedenta de respeito, de escuta, de reconhecimento e a estrangeira se torna sua testemunha.

Ser testemunha do e de olhar atento sobre as necessidades do povo e do e de gesto concreto que gera partilha –  que alimenta muita gente que tem fome de pão, de justiça e de cuidados.

Ser testemunha de uma comunidade que apesar do mar turbulento marcado pela necropolítica romana, que causa medo, não se deixa paralisar, porque sentem a presença de Jesus, que ensinou a crêr em outras possibilidades de fazer o caminho.

Ser testemunha em defesa das mulheres que são violentadas e apedrejadas por leis e preceitos religiosos que fortalecem sistemas de morte, estruturados pelo sistema religioso patriarcal.

Ser testemunha da atenção e cuidado com os corpos que tem deficiência, corpos marginalizados, curando-os de seus sofrimentos causados por uma sociedade que não os reconhecem e os desejam bem longe, à margem.

Testemunha de quem se deixa tocar e ser ungido por um desses corpos marginalizados e gosta do que sente, do que cheira, do que experimenta.

Testemunha de um mestre que põe um avental e lava os pés d@s que chamam de amig@s,  rompendo com a lógica de patrão e empregado, de servo e senhor, relações onde a arrogância predominante não permite reconhecer @ outr@ como igual e, dessa forma aponta para uma outra lógica nas relações de poder.

Testemunha de quem ama até o fim. Que experimenta o martírio,  porque acredita que vida sem amor e sem causa não tem sentido. Vida só tem sentido doada para ser mais vida. Dar a vida é para quem tem amor”. Para enfrentar o ódio e as perseguições do mundo é preciso ter amor.

Essa irmandade que hoje se reúne aqui, nesse encontro, é uma irmandade da espiritualidade martirial, ou seja, acreditamos que também recebemos o legado do mártir Jesus de Nazaré de sermos suas testemunhas.

Sermos uma irmandade de testemunhas de avental, o avental do amor, da paixão, da ternura, do cuidado, do serviço na defesa dos direitos humanos, da opção preferencial pelos pobres, da libertação, das lutas forjadas pelas minorias, nos quilombos, nas favelas, nas periferias, no campo, nas aldeias, nas ruas…

Somos testemunhas de muit@s que lutaram antes de nós
e que lutam ainda hoje.
E “quem  luta no amor não pode morrer”.
@s mártires são sementes
cujo sangue fecundou a terra
e el@s brotaram,
tais como os Ipês,
que flora em tempos de seca.
Florescendo resistência
se faz beleza
a enfeitar os caminhos de gente
que insiste em seguir lutando.

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"Chamados pela luz da Tua memória, marchamos para o Reino fazendo História, fraterna e subversiva Eucaristia."

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